O aborto

Há uns anos atrás, Portugal foi a referendo. Mais de metade resolveu ir para a praia e ganhou o não num universo de menos de 1/3 de eleitores que exerceram o seu direito de cidadania (eu fui um deles).

Sou a favor da despenalização que entendo ser uma questão de consciência de cada um. Entendo, como o PCP, que a matéria, ainda que do foro pessoal, não deveria ir a referendo. O Governo ( este ou qualquer outro) devia fazer aprovar a lei.

Como disse, sou a favor da despenalização e não a favor do aborto coisa que só nos países de Leste ou na China se pode defender e fomentar em nome de um interesse superior (qual seja não sei).

Tenho vergonha de pertencer a um país onde as mulheres que acabaram de praticar aborto são levadas para interrogatório judicial, num processo – vale-nos o bom senso dos juizes portugueses – que só enxovalha e não acaba com a praga do aborto clandestino.

Tenho vergonha quando ouço a elite portuguesa que defende o não dizer que temos de apostar na vida humana. Para além de actos de caridade que ficam bem nas revistas cor de rosa – e que também me envergonham-, quem é que ajuda, diariamente, as mulheres e as famílias que vivem com dificuldades inimagináveis ou os miúdos que mal nascem são entregues a instituições para adopção onde, por vezes, permanecem à espera que alguém se lembre deles. Acabam invariavelmente por saltar de instituição em instituição até atingirem a idade adulta sem direito a uma infância e à família que é (ainda) uma instituição a valorizar.

Tenho vergonha de um Estado que não apoia a natalidade e penaliza as famílias que optam por ter filhos. Por toda a Europa, que está a envelhecer, os estados fomentam a renovação e a natalidade.

Hoje de manhã ouvi com satisfação as declarações do Bispo de Viseu (um católico como deve ser) que diz que votava sim no referendo se a questãoa decidir fosse só a despenalização das mulheres que praticam o aborto. Na opinião do Bispo, as mulheres que o fazem não o fazem de ânimo leve.

O Bispo, como dizia a J., vai votar pelo sim. Não pode é dizer mais.

No meio disto tudo, espero que ganhe o sim.

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